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  • 1 Faculdade Dom Pedro II - São Carlos-SP (1928-2009)
    Acervo Valentim Gueller Neto
  • 2 Bonde da Carne São Carlos–SP (1912-1962)
    Acervo Raymond DeGroot
  • 3 Estação Ferroviária de São Carlos-SP (1925)
    Acervo Valentim Gueller Neto

Estação 52 - Mapa Antigo do Município de São Carlos

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Poder ver esse mapa do município de São Carlos-SP de décadas passadas, foi uma grande surpresa! Além de  contrastar com linha preta e mais grossa os limites do município, mostra também detalhes da região, municípios, fazendas, rios, estradas de terra,  ferrovias, etc..  Foto 01 

Com o mapa,  e um lote de fotos das estações ferroviárias dos ramais métricos da  Companhia Paulista de Estradas de Ferro,  de Ribeirão Bonito e de Santa Eudóxia,  que comprei no Foto Arte,  do fotógrafo José João, o "Alemão" e mais algumas, cedidas por amigos, resolvi fazer estas duas  viagens  ao passado.

Como o mapa é muito grande e difícil de ampliá-lo nesta página, fiz dois  recortes, um com cada ramal.



                       Ambos tinham seus inícios na Estação  de São Carlos-SP -  Foto 02 
Clique sobre as fotos para ampliá-las.
                                         

                               

RAMAL SÃO CARLOS - RIBEIRÃO BONITO   Foto 03

Este ramal tinha seu início em São Carlos-SP, partia da cabeceira direita da plataforma, acompanhava a linha tronco da CPEF para Araraquara, por uns 2,5Km, e, um pouco antes do pontilhão sobre a atual Av. Tancredo de Almeida Neves, "Avenida das Torres",  derivava à esquerda, e    contornava toda a grande Vila Prado. Naquela vila, os trilhos faziam uma grande ferradura, e saindo do perímetro urbano, começavam as propriedades rurais e as estações que serviam as mesmas: ANGICO, MONJOLINHO, JACARÉ e RIBEIRÃO BONITO. Não aparecem no mapa a Estação de SANTO IGNÁCIO  que ficava entre as  de Jacaré e  Ribeirão Bonito e o posto telegráfico TAMANDUÁ, que ficava entre as estações de  Santo Ignácio e Ribeirão Bonito. Tinha aproximadamente 60 Km e, segundo os antigos de São Carlos, a grande ferradura na Vila Prado, foi para atingir a quilometragem mínima para a concessão do ramal. Foi inaugurado em 1894 e operou por 75 anos, até 1969.

A PRIMEIRA VIAGEM, VAMOS EMBARCAR?

Na Estação de  São Carlos,  na foto, os trens de bitola larga, que faziam São Paulo - Colômbia,  estacionavam para embarques, desembarques e baldeações à esquerda, e os ramais métricos ficavam à direita.  A composição à esquerda, está no sentido São Carlos - Araraquara, e a da direita São Carlos - Ribeirão Bonito. Foto 04 


Uma locomotiva a vapor tracionando carros de passageiros, partindo da Estação de São Carlos para Ribeirão Bonito.  Foto 05 

Como a linha métrica de 0,60m ficava, na foto, à esquerda da plataforma, logo na saída da Estação  de São Carlos, desviava à direita para assumir o ramal.  Através desse desvio e do ramal, as locomotivas iam até um virador próximo do pontilhão sobre a Rua Itália - Travessa 8, sentido fundo da foto, para serem viradas.  Foto 06 


As composições partiam de São Carlos e além dos passageiros, também levavam os suprimentos comprados na cidade, pelos fazendeiros. A 1ª parada era na fazenda Angico, próximo do córrego Água quente.      Foto 07 

Em 1930, o grande centro de abastecimento da cidade e das fazendas, era o Mercado Municipal, foi demolido em e ganhou um novo prédio. Foto 08 


Quase tudo acontecia em função do trem. A  2ª parada era Monjolinho,  e  próxima da Usina Hidrelétrica Monjolinho.   Foto 09  



A usina gerava  os 800 volts, em corrente contínua, para a ferrovia urbana dos bondes em São Carlos,  da CPE - Companhia Paulista de Eletricidade, operou de 1914 a 1962, hoje é um museu.   Foto 10 



As consultas médicas e visitas na Santa Casa, aconteciam em função dos horários dos trens.  A 3ª parada  era em Jacaré, próxima do rio Jacaré Guaçu.          Foto 11


A Santa Casa, fundada em 1891, em 1930,  era o único hospital , atendia a população urbana e rural.   Foto 12  



Quando a família decidia batizar o neném em  São Carlos, o transporte do recém nascido e familiares era pelo trem a vapor. A 4ª parada era na fazenda  Santo Ignácio.  Foto  13  
O mesmo acontecia com casamentos.  .As famílias vinham junto com a  noiva  para São Carlos para a celebração do casamento. A 5ª e última parada do ramal  era  Ribeirão Bonito.  Foto 14 

 A celebrações dos batizados e casamentos aconteciam na antiga Matriz de São Carlos Borromeu, inaugurada em 1857 e demolida em 1949, cededendo o espaço para a atual Catedral.      Foto 15                                                                                  
AGORA, VAMOS RETORNAR À ESTAÇÃO DE SÃO CARLOS, E FAZER A BALDEAÇÃO PARA SANTA EUDÓXIA.          





RAMAL SÃO CARLOS - SANTA EUDÓXIA Foto 16 
Saía da cabeceira esquerda da Estação de São Carlos-SP, e  acompanhava a linha tronco da CP para São Paulo, por aproximadamente 1Km, derivava à esquerda e passava ao lado da  "SAMBRA" - Óleos Vegetais, e depois pela atual praça Itália. Seguia pela Vila Isabel, vila que deu início ao povoamento da cidade, até o  pontilhão sobre a Rodovia Washington Luis e adentrava na zona rural. No mapa, estão todas as estações: BABYLONIA, FLORESTA, CANCHIM, CAPÃO PRETO, ÁGUA VERMELHA, , ARARAHY, ALFREDO ELLIS e SANTA EUDÓXIA. Tinha aproximadamente 63km.  A inauguração do ramal deu-se em 1892, e seu final, 70 anos depois, 1962.

A SEGUNDA VIAGEM:

Em São Carlos,  os ramais métricos ficavam na calha mais próxima ao prédio da Estação, na foto, à esquerda. O início do ramal para  Santa Eudóxia era nessa linha, sentido fundo da foto.   Foto 17 


Trem puxado por máquina a vapor,  chegando de Santa Eudóxia na  Estação de São Carlos . Ao fundo e à esquerda, o prédio da Cia Fiação e Tecidos  São Carlos, a "Tecidão" que fazia divisa com o ramal.  Foto 18




O projeto "Caminho dos Pinhais", quando implantado, vai recolocar parte dos trilhos no leito daquele ramal,  entre a Estação de São Carlos e a praça Itália. Na foto, à esquerda da linha tronco da CP.  Foto 19

Neste ramal também o trem era o principal meio de transporte, as composições de carga davam vazão à produção agrícola, principalmente o café. A 1ª parada era na fazenda Babylonia.  Foto 20 


Os horários dos trens atendiam principalmente aos alunos e trabalhadores que estudavam e trabalhavam em São Carlos. A 2ª parada era na fazenda Floresta.  Foto 21                       


Na Escola Normal, inaugurada em 1910,  os estudantes  cursavam o Curso Normal e se formavam Professores Normalistas. Foto 22


E no Frigorífico São Carlos do Pinhal, muitos trabalhavam. Encerrou suas atividades nos anos 60, e, em 2004,  foi demolido, cedendo o espaço para o Hospital Escola.  Foto 23 


As fazendas que criavam  gado leiteiro faziam a ordenha de madrugada e levavam os latões de leite para as estações. O trem os transportava até a estação de São Carlos e, depois, a Cooperativa de Lacticínos, que era próxima, os retirava através de um caminhão. A 3ª parada era na Fazenda Experimental Canchim, do Ministério da Agricultura, hoje EMBRAPA.   Foto 24 


A Cooperativa de Lacticínios São Carlos localizava-se a 300m da estação ferroviária. O prédio está preservado, mas descaracterizado. Nos anos 70,  passou a operar em uma nova unidade ao lado da praça Itália, onde foi a "SAMBRA" e no início dos anos 2000, encerrou suas atividades.     Foto 25 


Quando o gado era vendido, uma composição de vagões gaiola os transportavam até São Carlos, e de lá, seguiam viagem pela linha tronco da CP, ou a boiada ia pelas ruas da cidade e pelo Picadão de Cuiabá, onde localizava-se o Matadouro Municipal. 4ª parada era na fazenda Capão Preto.  Foto 26 


No pátio de São Carlos, a interessante baldeação de gado dos vagões de bitola métrica para os de bitola larga. Foto 27



Matadouro Municipal de São Carlos, onde parte do gado era abatido. O prédio está preservado e hoje  é um bloco de salas de aulas da Escola de Engenharia de São Carlos - EESC-USP.   Foto 28


Na safra do algodão, composições de vagões gôndola transportavam a colheita das fazendas para a Fábrica de Tecidos Madalena, que depois, passou a ser a Cia Fiação e Tecidos São Carlos, a "Tecidão". A 5ª parada era na Vila de Água Vermelha,  Foto 29



Cia Fiação e Tecidos São Carlos, a "Tecidão", que tinha um ramal particular entre o pátio de São Carlos e a Indústria.  Foto 30


As fazendas eram muito povoadas; os trabalhadores moravam nelas, nas colônias. E as Normalistas, para atenderem os alunos das escolas rurais, embarcavam no primeiro trem em São Carlos. A 6ª parada era na  Fazenda Ararahy.   Foto 31 


Alfredo Ellis era o proprietário da fazenda Santa Eudóxia, a maior produtora de café da região.   o Sr. Nicola Gonçalves, historiador de São Carlos, conta que da estação  Alfredo Ellis saia um pequeno ramal para  o engenho de café Santa Eudóxia, e que  pela alta qualidade, era exportado para a  Inglaterra.    A 7ª parada era naquela estação.     Foto 32 


Quando madeiras eram vendidas pelos fazendeiros, vagões prancha  transportavam as toras até as serrarias   Giongo e Santa Rosa, que tinham ramais particulares até o pátio de São Carlos. A 8ª parada e final do ramal era na Vila de Santa Eudóxia,   Foto 33

A Serraria Giongo, 1962, dia em que a locomotiva perdeu os freios e derrubou o telhado.  Preservada, hoje é agência dos Correios e uma pizzaria. Foto 34


A Serraria  Santa Rosa, demolida, hoje é a loja 22 da rede  Jaú Serve Supermercados.   Foto 35          FIM DA SEGUNDA VIAGEM


QUASE NADA RESTOU
E, entre 1962 e 1969, tudo acabou. Das 14 estações entre os dois ramais, 9 ainda sobrevivem, mas, a maioria perdeu suas características originais. No ramal de Ribeirão Bonito ainda é possível ver as estações de  MONJOLINHO, SANTO IGNÁCIO  e RIBEIRÃO BONITO. E no ramal de Santa Eudóxia,  as estações de BABYLONIA, FLORESTA, ÁGUA VERMELHA, ARARAHY, ALFERDO ELLIS e SANTA EUDÓXIA. Cada estação era o início de um povoado com algumas casas e algum comércio. Com o fim dos ramais, as casas se esvaziaram e os comércios fecharam. Das estações sobreviventes, nenhuma foi preservada como um símbolo ferroviário e se tornaram moradias, depósitos, fábrica, prefeitura, restaurante e escolas. E hoje, os jovens de São Carlos, sequer ouviram falar que da estação ferroviária partiam os dois trenzinhos...


SOBRE O MAPA DO MUNICÍPIO DE SÃO CARLOS
Além dos ramais ferroviários já mencionados, aparecem também no mapa:  a) A linha tronco da Companhia Paulista de Estradas de Ferro entre São Carlos e Araraquara. b) A Tramway da Companhia União Agrícola Morgante, que, em 1920, passou a ser a Ferrovia da Usina Tamoyo, entre a estação de Tamoyo da CP e a margem do rio Jacaré Grande, e entre Chibarro e a Fazenda das Flores e Margem do córrego Brejo Grande. d) Em Araraquara, detalha seguimentos dos trilhos da CP e da Estrada de Ferro Araraquara - EFA. e) Em Rincão, os trilhos da CP e do ramal Mogy Guassu. Futuras postagens.

SOBRE A DATA DO MAPA
a) A estação de Santo Ignácio foi inaugurada em 1912, e não é citada..
b) No mapa aparece "Tramway da Companhia União Agrícola Morgante"  e em 1920, passou a ser Ferrovia da Usina Tamoyo.
c) As estradas rodoviárias aparecem como " Estrada para Automóvel", e a principal rodovia da região, a Washington Luis - SP 310, fundada em 1923, não é citada.
Com esses dados, tudo leva a crer que esse mapa foi impresso antes de 1912.  Veja o mapa ampliado  clique AQUI.

VEJA MAIS:





CRÉDITOS:
FOTOS:
01, 02, 03 08, 16, 23 e 25 : Acervo Valentim Gueller Neto
22: Foto Colombo - Acervo Valentim Gueler Neto
04, 07, 09, 14, 17, 20,21, 24
26, 28, 29, 30, 31, 32,  33, 34
e 35:  Foto Arte - José "Alemão" João,  - São Carlos-SP
05: Acervos Thomas Correa  e Vanderley Duck
06: Acervo Marco Aurelio Alves da Silva
10: Filemon Peres - Almanach de São Carlos - 1916-1917 - Acervo Foto Arte
11: Estações Ferroviárias do Brasil - Acervo   Ralph Mennucci Giesbrecht 
12 e 15: Acervo Antonio Carlos Lopes da Silva - Revista Raça 1929 - 1933
13: Sergio Paulo Doricci
18: Autor desconhecido - Acervo José Alfeo Röhm
19: Geraldo Godoy - ABPF
27: Filemon Peres - Álbum Centenário da Companhia Paulista 
de Estradas de Ferro - Acervo  Foto Arte  
PARTICIPARAM:
Antonio Carlos Lopes da Silva
Luis Antonio ferro Gobato
Maria Nazareth, Daniel e Lika Röhm
Ralph Mennucci Giesbrecht
Sergio Paulo Doricci
Agradecimentos:
Ralph Mennucci Giesbrecht


Obrigado por sua agradável companhia, nos encontraremos certamente na Estação 53.
                                                         Abraços, Alfeo.

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