• 0
  • 1 Faculdade Dom Pedro II - São Carlos-SP (1928-2009)
    Acervo Valentim Gueller Neto
  • 2 Bonde da Carne São Carlos–SP (1912-1962)
    Acervo Raymond DeGroot
  • 3 Estação Ferroviária de São Carlos-SP (1925)
    Acervo Valentim Gueller Neto

Estação 24 - Luiz Gastão de Castro Lima, Também Ferreomodelista

| | Comments: ( 10 )
Sãocarlense, nascido em 07 de outubro de 1927, sua marca era o sorriso. Eu o conheci com uns onze anos, logo que ele e a família vieram para São Carlos, em 1960. A geladeira deles deu defeito, e eu fui, junto com meu pai, na residência onde moravam, para fazer o conserto. No final dos anos 60, a Marília filha deles e eu nos tornamos colegas de turma, anos dourados e da juventude. Em 1973, me tornei aluno dele e a amizade cresceu. Foi uma amizade de 40 anos, com trocas profissionais e amigas. Um Amigo, um Paizão, sempre estava preocupado com o bem estar da famíla e dos amigos. Falar do Gastão ou escrever sobre ele, se tornou um pouco difícil, a voz embarga e os dedos se travam no teclado, mas vou tentar...


Tinha verdadeiro fascínio por tudo quanto era novidade tecnológica. Em 1956, quando foi lançado o Romi Isetta, ele adquiriu um dos primeiros, e chegou a vir de São Paulo a São Carlos com ele; foi o primeiro "ovo" sobre rodas a chegar nesta cidade e causou um alvoroço, me lembro bem disso.




Mas o detalhe principal é que a Rodovia Washington Luís, entre Limeira e São Carlos, era pista simples. Além disso, no sentido São Paulo - interior, havia a subida da serra de Rio Claro, na época conhecida como "serra da morte". Naqueles anos, e com aquele carrinho de baixa potência, entre 9,5 e 13 cavalos, disputando espaço com caminhões e ônibus , foi um verdadeiro "rally dos sertões' !

Era um carrinho de baixa potência só para dois..., para ele e a Flávia, sua esposa.

Em 1976, o Gastão foi contratado para ser assessor da Reitoria da Universidade Federal de São Carlos, para a implantação do Curso de Engenharia de Produção e escreveu a primeira proposta deste curso, em manuscrito. Em 1978, me concursei na UFSCar, fizeram parte da banca examinadora os professores do Departamento de Engenharia de Produção, Dr. Alceu Gomes Alves Filho, Dr. Flávio César Faria Fernandes e Dr. Luiz Gastão de Castro Lima.

Em agosto de 1979, tomei posse como técnico de laboratório e nos aproximamos mais, passamos a nos reunir semanalmente para a implantação do Laboratório de Produto por ele projetado, e depois para o preparo e aplicação das aulas práticas das disciplinas. Antes e após as aulas, bons papos. Conversavamos sobre tudo, e assim foi por 16 anos. Alunos? Por ele passaram uns 1000 dos Cursos de Engenharia de Produção Agroindustrial, Mecânica e Materiais, para atividades grupais em projeto e desenvolvimeto de produtos. Como resultado, além da teoria, muitas maquetes, mock-ups e até produtos acabados. Alguns encontram-se preservados no acervo do Laboratório de Produto, hoje Laboratório Integrado de Engenharia de Produção - LIEP.

Nos anos 80, quando foi para a Espanha, me trouxe esse jogo de pequenas chaves de fenda para as manutenções nas minhas locomotivas. Ao me entregar, deixou bem claro que somente ele e eu é que poderíamos utilizá-lo.



Queria saber se o Prof. Gastão havia chegado, era só olhar no estacionamento se havia um Doginho Polara creme, era seu carro preferido.
Cuidava dele como se fosse um filho, por duas vezes o reformou e restaurou mantendo a originalidade. Carro para colecionador.






Para ir para às praias em São Sebastião, tinha um VW - TL, verde abacate que acabou ficando para uma das filhas. Também era impecável.

O Méflin, um vira latas, sempre foi o "aluno" mais assíduo das aulas do Gastão, chegava com ele no doginho ou no TL, pedia água, e depois deitava-se no capacho logo na entrada do Laboratório de Produto. Quem chegava depois dele, tinha que pulá-lo, só se levantava no final da aula para voltar para o carro junto com o dono.
O Gastão era apaixonado por trens e e trenzinhos, detalhista; montou num canto da sala uma ferrovia alimentada com corrente alternada, era um trenzinho lindo de 3 trilhos, ATMA! Mas eram dois os empolgados,  o Méflin também se empolgava com o trenzinho, e ia cheirar os trilhos, enconstava o nariz nos mesmos e levava choques... Resultado: Lógico, o trenzinho foi desmontado e aquele cachorro sem vergonha e grande reprodutor , "traçava todas", continuou reinando soberano...










Mas a paixão não acabou. Nos anos 90, quando esteve na Inglaterra, o Gastão foi visitar o "National Railway Museum - York" e na volta me presenteou com o catálogo daquele museu. São páginas e páginas da história e da preservação ferroviária inglesa.



Na parte superior de sua casa tinha uma oficina, e lá preparava reparos para a casa, era ele que cuidava de tudo. Além das manutenções, modelava maquetes de seus projetos arquitetônicos e punha em prática sua criatividade. O coletor de poeira, acessório para a furadeira para furos no teto e nas paredes, foi uma das suas ultimas aquisições.


Construia circuítos eletrônicos, essa caixinha preta ao lado da furadeira é um controlador de velocidade. O seu multímetro era esse analógico, um SICO Mod 670-A dos anos 50.






Modelava réplicas de aeronaves,
como a réplica desse STUKA, caça alemão:Esse modelo abaixo foi detalhadamente construído com varetas e entelado com papel de seda, kit da Casa Aerobrás - SP.













Ouvindo as fitas
no gravador de rolo
SONY - O- MATIC, lá está a voz grave dele, simulava programas radiofônicos e comentava a qualidade das músicas, e depois mandava para os amigos ou os convidava para ouvir.




Ele também gostava de cozinhar, e com essa frigideira furada por nós, ele fazia "nhoque de pingar" sem batata. Preparava uma massa quase líquida, despejava uma porção na frigideira e quando começava a pingar pelos furos, cortava com uma faca. Os pingos caiam dentro de uma panela com água fervendo que fazia o cozimento. Depois de tudo cozido, o molho e queijo do bom ralado. Bom demais!







Um marco da arquitetura sãocarlense é a igreja de Nossa Senhora de Fátima. Na revista comemorativa dos 40 anos daquela Paróquia lê-se o seguinte: " ..., iniciaram, no começo dos anos 60, a construção da igreja com um projeto do professor da Escola de Engenharia de São Carlos - USP - Dr. Gastão de Castro Lima.


O formato arquitetônico da igreja, construída em "tijolo à vista", representa uma barca, sendo que a estrutura de sustentação da laje seriam os remos; o telhado, uma vela estilizada, convida à oração..." Por ser uma igreja, talvez seja sua obra mais conhecida em São Carlos.



Sabendo que sempre gostei de antiguidades, um belo dia me presenteou com essa raridade, uma latinha de pasta para sapatos " 2 ANCORAS", foi produto das prateleiras das vendas e armazéns até os anos 60.



Era irreverente, irônico, espirituoso, gozador, brincalhão, onde estava só havia boas risadas e alegria.
No Natal de 2001 me mandou esse cartão de retribuição,

















e ao abrí-lo...

















Trabalhamos juntos até 1995, quando aposentou-se da UFSCar.



No dia 7 de outubro de 2002 o Gastão completou 75 anos, e no dia 09 do mesmo mês, como Amigo, esteve no jantar que o Departamento de Engenharia de Produção da UFSCar me ofereceu pela minha aposentadoria.





Daquela festa, existe um vídeo e meu filho Daniel fez uma edição com imagens do Gastão, logo no início ele aparece fazendo suas brincadeiras e gozações, "buuuuuuuuu".



Após aquela data, almoçamos juntos algumas vezes no restaurante da USP em São Carlos, e em 03 de dezembro de 2003, aos 76 anos, ele fez a passagem para o Plano Maior...


Após sua morte, a família Castro Lima, doou parte do seu acervo ao Prof. Dr. Nilton Luiz Menegon do DEP, que montou um arquivo em sua memória no LIEP. Um dos destaques dessa coleção é aquele documento escrito, em manuscrito, em 1976, pelo Gastão, com a primeira proposta do curso de Engenharia de Produção da UFSCar. Nas primeiras linhas, lê-se: "Projeto para o curso de Engenharia de Produção especialidade Engenharia do Produto", veja aqui.






Em 2006, o Departamento de Engenharia de Produção da UFSCar comemorou seus 30 anos, e uma das solenidades foi atribuir à sala em que o Gastão ministrava suas aulas, junto ao LIEP, o seu nome.




Há 15 anos, seu neto Bruno, também conhecido por "Hippie" e "Farofa" e meu filho Daniel, são grandes amigos. O "Hippie" não é arquiteto é Administrador de Empresas e Poeta....., o Daniel é Engenheiro de Produção e Aeromodelista.


O trenzinho que o Méflin levava choques?
Provavelmente, ficou para um dos netos...








Bem, até aqui tentei mostrar uma amizade que durou 4 décadas, e deixou muita saudade. Mas, se você quiser saber mais sobre a obra e os caminhos profissionais do Arquiteto Gastão, confira a Dissertação de Mestrado da Arquiteta e Urbanista Cristiane Kröhling Pinheiro Borges Bernardi "Luiz Gastão de Castro Lima: trajetória e obra de um arquiteto". Uma ótima pesquisa que poderá ser baixada no seu computador, veja aqui

Créditos:Fotos:
Dodge Polara : CURIOSIDADES - WWW.CARROANTIGO.COM
VW - TL: Blog do Mestre Joca
Méflin
Desenho em grafite do Gastão - Dissertação de Mestrado da
Arquiteta e Urbanista Cristiane Kröhling Pinheiro Borges Bernardi
"Luiz Gastão de Castro Lima: trajetória e obra de um arquiteto"
, p.38
Avião STUKA: Google Imagem
Pasta 2 ANCORASGoogle Imagem
Coletor de poeira: Google Imagem
Outras: José Alfeo Röhm
Vídeo: Daniel Gobato Röhm
Bibliografia:
Revista Paróquia de Nossa Senhora de Fátima de São Carlos - 40 anos - 1970 - 2010 - p. 03
Diretor: Padre João Roberto Campanini - Jornalista: Renato Chimirri

Colaboraram:
Daniel e Maria Nazareth Gobato Röhm
Agradecimentos:
Antonio Carlos Lopes da Silva
Alan Fankhauser, proprietário da composição ATMA em corrente
alternada, trem "R" da Companhia Paulista.
Valentim Gueller Neto
Do LIEP:
Prof. Dr. Nilton Luiz Menegonpelo empréstimo do documento original escrito pelo Gastão em 1976.
Jorge Luiz Ranieri
Leonardo Prenholato

Produtos: Acervo Lugar do Trem

Obrigado por sua amável companhia, nos encontraremos certamente na Estação 25.
Se você gostou ou tem críticas, comente abaixo.
Abraços, Alfeo.