O título de Nossa Senhora de Fátima me ocorreu espontâneo, não tanto por ter visitado seu Santuário, em Portugal, mas,muito especialmente, porque suas mensagens de "oração e penitência" concorriam eficazmente para conservar e avivar a Fé daquela boa gente. Além disso, julguei que, edificando uma igreja dedicada à Mãe de Deus, iria ao encontro da religiosidade do povo de São Carlos. Para motivar os fiéis, não pude resistir à súbita inspiração de, antes de qualquer projeto, adquirir uma bela imagem da Padroeira, pois , seria ela um poderoso apelo para a construção do seu templo. Foto 05
A imagem Mas, quem me poderia indicar um artista capaz de esculpi-la com perfeição? Sem ter a mínima ideia de quem poderia me orientar nisto, eis que, com indescritível surpresa, se me deparou o escultor mais habilitado. De 2 a 10 de agosto de 1962, fui pregar em Bebedouro, SP. Vendo na capela do Colégio Anjo da Guarda, dirigido pelas Irmãs Dorotéas, belíssima imagem da fundadora, Santa Paula Frasseneti, perguntei a respeito de sua procedência. Respondeu-me a Superiora que era de madeira, esculpida por Joaquim de Souza e Silva, pai de uma religiosa daquela comunidade, residente no Rio de Janeiro. Foto 06
Foi para mim uma revelação, muito além de toda expectativa. De posse do endereço, escrevi-lhe, sem tardança, pedindo uma escultura de Nossa Senhora de Fátima, muito bem feita e de tamanho natural. Sem regateio, concordei com o custo: Cr$200.000,00, em quatro prestações. Segundo posterior declaração do autor, a execução de tal obra orçaria entre 8.000 a 10.000 dólares. Foto 07
O Sr. Dário Rodrigues, de São Carlos, concorreu com Cr$50.000,00. Outra prestação de Cr$50.000,00 foi oferta do saudoso José Pimenta Teles. O mais , resultou de dádivas e promoções dos fiéis de Vila Pureza. A imagem chegou em São Carlos em 1963. Trata-se de uma belíssima escultura em cedro do Amazonas. Sua execução foi inspirada nos escritos das aparições e na imagem de Fátima, peregrina, que percorreu o mundo. Mede da cabeça aos pés, 1,62m. Permaneceu uma temporada na sala na sala de visitas do convento de São Sebastião, São Carlos, aguardando o término de uma capela provisória e a confecção da planta da igreja. Foto 08
O escultor Para apreciar o valor artístico da imagem é bem que demos o "Curriculum vitae" do autor, Joaquim de Souza e Silva. Nasceu em 7/7/1911 na freguesia de S. Maria de Avioso, Porto, Portugal. Com sete anos, começou a frequentar a oficina de escultura de Teixeira Lopes, no Porto, durante dois anos. Em seguida trabalhou no atelier de Amálio Maria, durante 12 anos. Sempre no mesmo ramo da escultura, auxiliou o famoso escultor Teixeira Tedin, durante 5 anos. Aqui foi executada a célebre imagem do Santuário de Fátima , bem como as três aparições. Foto 09
No Brasil Veio para o Brasil em 1939 com a esposa e três filhos: Joaquim, Manoel e Bernardete que se tornou religiosa. Montou seu atelier de escultura, sucessivamente em diversos lugares, no Rio de Janeiro e, por ultimo, em Laranjeiras, Rua Pereira da Silva, 71. Foto 10
Participou de 4 exposições obtendo nelas a primeira classificação. Em 1948 conquistou a medalha de prata na exposição do Salão Nacional de Belas Artes. Em 1949, o primeiro prêmio conferido pelo Cardeal Dom Jaime de Barros Câmara. Salão Municipal do Rio. Em 1952, obteve o primeiro prêmio da Prefeitura do Distrito Federal. Enfim, foi condecorado com medalha de ouro na exposição geral de Arte do Clube Genástico Português. Durante cerca de meio século de sua atividade profissional no Brasil, executou inúmeras obras de escultura em madeira que se acham espalhadas tanto no território nacional como no Uruguai, Argentina, Portugal, Espanha, Estados Unidos, etc.. Seus dois filhos se dedicam à mesma arte. Joaquim de Lemos e Souza é professor titular de escultura e livre docente na Escola de Belas Artes do CLA da Universidade do Rio de Janeiro; E Manoel Lemos e Souza tem seu atelier de escultura na Rua Voluntários da Pátria, 190, s. 220, Botafogo, Rio de Janeiro. Foto 11
A planta da igrejaEntrementes, tratou-se da planta da igreja. Já havia um projeto executado pelo Dr Djalma Khel e pelo Dr. Alvaro Giongo. De fato, na terraplanagem descobriu-se uma urna de cimento contendo uma ata em estado de decomposição, que mal pudemos decifrar tratar-se de pedra fundamental de igreja. Mas isto passara para o esquecimento e não houve quem dissesse algo a respeito. Em reunião com diversas pessoas gradas na residência do Dr. Ernesto Pereira Lopes Filho, de saudosa memória, e sob a presidência dele, após ter visto a dita planta, declarou que seria sobremaneira dispendiosa e que ele ofereceria outra de estilo moderno e de menor custo. Na reunião seguinte que foi também em sua residência, exibiu nova planta , obra do professor Dr. Gastão de Castro Lima que lecionava na Escola de Engenharia de São Carlos. Fôra por ele projetada para ser construída na mesma Escola de Engenharia como modelo de arquitetura. Não tendo obtido verba para sua execução, por intermédio do Sr. Ernesto, no-la cedeu com a requerida ampliação. A ela deram os presentes unânime aprovação. Foto 12
Recepçao da imagem Em seguida, tratou-se tratou-se do transporte da imagem. Devia ser com solene procissão. E porque viera do Rio de Janeiro, devia dar a impressão que vinha de lá e de tal modo que todo o povo da cidade pudesse participar do acontecimento. Foto 13
Em conversa com Adhemar Ranciaro, estabeleceu-se que ela seria trazida de algum lugar de avião para ser recepcionada no campo Salgado Filho. Com esta intenção, fui com ele ao aeroporto militar de Pirassununga para solicitar o transporte da imagem até São Carlos. Fomos prontamente atendidos. Mas, em razão do tamanho grande da imagem nos pediram que aguardássemos algum tempo, porquanto, no momento, só dispunham de aviões de treino. Todavia, estando a data da recepção difusamente propalada, duas horas antes, a imagem foi ocultamente transportada para o campo de aviação. As 16 hs, estando o local da recepção, na avenida São Carlos, apinhada de fiéis, a imagem foi transportada nos ombros, do campo para o carro-andor, sob as aclamações da multidão. Antes de começar o desfile o Dr. Ernesto Pereira lopes, Deputado Federal, declamou vibrante saudação à Mãe de Deus, em nome do sãocarlense. Foto 14
A procissão foi seguindo lentamente pela avenida São Carlos, mão única, literalmente tomada de carros. quando a imagem, em seu andor, deu entrada no largo onde se situa a igreja, os fiéis que lá se comprimiam, explodiram em vibrantes saudações. Muitos houve que não puderam achegar-se por falta de espaço. A imagem foi colocada defronte de um altar adrede preparado. Depois de benzida, o Bispo Diocesano Dom Ruy Serra Iniciou a santa Missa. Após o Evangelho proferiu tocante homilia sobre o culto e a poderosa intercessão da Virgem Maria. Após a bênção final, o coro entoou o hino a Nossa Senhora de Fátima. Aos derradeiros ecos de "Ave, ave, ave, Maria", percebemos que já baixavam as sombras. Era hora do acender das luzes, enquanto o povo se ia retirando muito satisfeito por ter participado dessa empolgante e inesquecível manifestação mariana. Isto aconteceu provavelmente no domingo 20 de junho de 1965. Foto 15
Grata contribuição Não dispondo de recursos para o início da obra, a comunidade passionista da igreja de São Sebastião cedeu o local e a vez para a quermesse que costuma realizar anualmente, julgo que se tenha efetuado durante o mês de julho, aos sábados e domingos. Foto 16
guarda da imagem
Temendo, com razão, que ela viesse sofre algum dano, permanecendo na sobredita capela, recem-construída, e porque esta devia ceder o lugar para o novo templo, no domingo seguinte ao da recepção, foi conduzida com singelo acompanhamento de fiéis, para a residência de D. Esther Pereira Lopes, viuva do Dr. José Pereira Lopes, na Rua 15 de Novembro. Neste encontro D. Esther foi aclamada Presidente da comissão pró construção. Foto 17
A ilustre senhora tomou a sério este seu encargo. Começou a fazer moções, inclusive desfile de modas em seu jardim interno a fim de angariar recursos para o prosseguimento da construção. Promoveu também contribuições de diversas famílias do bairro, incumbindo da respectiva coleta algumas senhoras de boa vontade. Foto 18
Feliz realização O trabalho começou com entusiasmo. O chefe de obras da Prefeitura procedeu à terraplanagem. Terminados os alicerces e o baldrame, em certo domingo comum, na ausência do Sr. Bispo, o Mos Romeu Tortorelli, em cerimonia simples, benzeu a primeira pedra. O assentamento das paredes de tijolos à vista foi un tanto moroso, que deviam ser assentados em perfeito alinhamento. Por indicação do teto, foram adquiridos tijolos comuns , procedentes de Batovi, cujos mesmos seriam realçados com uma mão de verniz. Respaldadas que foram as paredes, para interligá-las, fundiu-se uma laje de concreto sobre a qual devia assentar a armação do telhado. Foto 19
Minha tranferência Corria o mês de maio de 1966 quando, por disposição do Pe. José Maria Lovera, Provincial, fui transferido para Ponta Grossa a fim de construir uma casa de retiros. Antes de me despedir de São Carlos onde permaneci durante seis anos, fui visitar a imagem que me pareceu,mais que nunca meiga e serena, em seu pedestal, no terraço interno, decorado com flores e folhagens, na mesma residência de D. Esther. Naquele instante, com o olhar, implorei mentalmente à Virgem Maria , abençoasse a todos os que corressem para ultimar a construção de seu santuário. Minha ausência foi sentida, pois, para o término da igreja faltava a cobertura e o piso, além do portal e dos vitrais. Sucederam-se não poucas dificuldades e momentos de desânimo no prosseguimento da obra. Contudo, mesmo à distância, dentro do possível, continuei a acompanhar os responsáveis, com palavras de animação. Foto 20
Testemunho
Aqui dou por fé tudo quanto acabo de relatar porquanto tomei parte nesse empreendimento. A seguir, pretendia completar este relatório que o Sr. Bispo Diocesano Dom Constantino Amstalden me pediu, contando com os depoimentos dos nossos protagonistas que acompanharam a construção até o final. o que me foi possível conseguir. É de se notar que sobre isto decorreram mais de 25 anos. Foto 21
Pe. Sílvio Mazzarotto, CP. Relator
O pequeno oratório que o Padre Sílvio Mazzarotto se referiu na foto 04, era essa capela. Localizava-se, somente ela, no terreno triangular, formado na sua frente pela Rua Major Júlio Salles, ao fundo o Picadão de Cuiabá, hoje Rua Miguel Petroni, mais o Campus da Escola de Engenharia de São Carlos - USP e na lateral, a Rua Dona Maria Jacinta. Foto 22
Sobre a porta, havia o letreiro "
CAPELA SÂO BENEDITO"
Foto 23
Depois de superadas muitas dificuldades, em 20 de setembro de 1970, o grande sonho do Padre Sílvio Mazzarotto tornou-se realidade e a igreja de Nossa Senhora de Fátima se tornou Paróquia. Foto 24
O Padre Silvio não datou o relato, mas na foto 21, ele escreveu: "É de se notar que sobre isto decorreram mais de 25 anos". Sua transferência para Ponta Grossa foi em maio de 1966, o relato dele provavelmente foi após 1991.
PARÓQUIA DE NOSSA SENHORA DE FÁTIMA
1970 - 2020 Foto 25
IMPORTANTE: Aqui falta uma foto do Padre Silvio Mazzarotto, que durante estes nove anos não foi conseguida. Se você a tiver e quiser contribuir com o Lugar do Trem, encaminhe a mesma para: alfeo.rohm@yahoo.com.br , que será adicionada à esta postagem.
CRÉDITOS:
FOTOS:
01, 24 e 25: José Alfeo Röhm
Eloi Moccellin e Lucinha Pinheiro
03 a 21: Livro Tombo de 2011 da Paróquia de Nossa
Senhora de Fátima, São Carlos - SP.
22 e 23: Acervo, Edna Picharillo - Tratamento digital,
FONTES:
Os 140 Anos da Paróquia São Carlos Borromeu
de Monsenhor Luiz Cechinato - Editora Suprema, 1991.
PARTICIPARAM:
Antonio Carlos Lopes da Silva
Diácono Carlos Pavan - Arquivo Diocesano de São Carlos
Maria Nazareth, Daniel e Lika Röhm
Marina Dino dos Anjos
Valentim Gueller Neto
AGRADECIMENTOS:
Padre João Roberto Campanini
Obrigado por sua agradável companhia, nos encontraremos certamente na Estação 107.
Abraços, Alfeo.
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