A
ausência de uma foto já estava fazendo com que a carrocinha de cachorros de São
Carlos - SP, caísse no esquecimento. O Lugar do Trem procurou no mínimo, por 40
anos por uma imagem da mesma com os amigos, com a Fundação Pró-Memória e com a
UEIM-Unidade Especial de Informação e Memória da UFSCar-Universidade Federal de São Carlos, mas não obteve
resultado. Foto 01
Assim,
fazendo uso da foto de um trole de cargas e das lembranças da infância, Foto 02
desenhou
a jaula que tinha a estrutura em madeira e o fechamento em telas de arame e a
instalou sobre o chassi do mesmo. Foto 03
Sobre a cobertura e junto à face posterior havia uma porta de levantar para colocar os cachorros laçados Foto 04
e na face traseira,
outra porta, maior, para
outra porta, maior, para
a retirada dos cachorros
capturados. Foto 05
Os laçadores eram tidos como desumanos e desalmados e se expunham às reações dos proprietários dos cães que chegavam até às agressões físicas e a polícia era chamada para garantir a execução do serviço. Foto 06
A carrocinha percorria as ruas da cidade e principalmente as das vilas e depois que a jaula estava cheia, entre 10 e 15 cachorros, Foto 09
ia para o depósito de cachorros, que ficava no Posto Zootécnico, na Av. Dr Carlos Botelho, 1465, onde passava o bonde SANTA CASA - GYNÁSIO. Foto 10
O depósito ficava no fundo, atrás das garagens e oficinas municipais que ocupavam os barracões da extinta Foto 11
A "hospedagem" no
depósito municipal era por apenas três dias. O proprietário de um cão tinha que
ir identificá-lo no depósito, depois ir até o Palacete Conde Do Pinhal, no
centro da cidade, para pagar a multa e, finalmente, com uma via da multa paga,
retornar ao Posto Zootécnico para a retirada do cachorro. Os cães que
eram retirados voltavam para suas casas e os demais, sadios ou não, eram
sacrificados. Os comentários da época, anos de 1950 e 1960, contavam que
eram afogados em um tanque com água e depois transformados em sabão.
Depois de muitas reclamações, a Prefeitura Municipal criou uma licença anual
para que os cachorros de famílias pudessem ficar na rua e não fossem laçados.
Mediante o pagamento, o contribuinte recebia uma plaquinha metálica dourada com
o nome da Prefeitura, o número da licença e o ano. Era para ser fixada na
coleira do cachorro para ser identificada pelos laçadores, mas para
aqueles que eram menores e mansos, na primeira saída, voltavam sem ela,
roubavam. Fotos 13
A MOLECADA:
A molecada, ah a molecada! Quando a carrocinha apontava em uma das ruas da Vila Pureza, os moleques ajudavam os cachorros a fugir e os laçadores estacionavam, desciam e corriam atrás deles para tentar laçá-los. Era o momento esperado: os moleques aproveitavam o distanciamento dos laçadores, abriam a porta traseira da jaula e batiam nas telas para os cachorros saíssem. Fazer isso era ótimo e tinha sabor de vitória! O Lugar do Trem fazia parte, mas chegou até a dar a presença da polícia.
As pessoas que cometiam alguma agressão contra a sociedade, iam para a delegacia de polícia em uma viatura; Foto 15
e
os cachorros que eram tidos como "vadios" e que se tornavam
riscos para a transmissão da raiva, iam para o depósito municipal de
carrocinha. Foto 16
A
carrocinha pode ter sido construída nessa fábrica que ficava na Rua Episcopal,
901-961. Hoje, S. A. Indústrias Giometti, ou Foto 17
na Fábrica de Vehículos Irmãos Censoni e Cia, que localizava-se na Rua Marechal Deodoro, entre as Ruas São Joaquim e Dom Pedro II. Hoje, Delegacia de Investigações Gerais da Polícia Civíl, ou Foto 18
na
Zani, na Rua São Sebastião, 1667, hoje Residencial São Sebastião, ou nas
oficinas da Prefeitura Municipal, na Av. Dr Carlos Botelho, 1465, hoje Observatório da USP . Foi caprichosamente construída pois enfrentou as ruas de
terra e de paralelepípedos da cidade por mais de vinte anos. Foto 19
Nos anos setenta, com as bodas de
prata, a carrocinha foi aposentada. E, para mostrar que São Carlos estava ficando
moderna, chegou a versão motorizada. A jaula foi instalada sobre uma caminhonete
Volkswagen. Teve vida curta, pois em paralelo começaram as ações de proteção
aos animais e acabou sendo desativada. Foto 20
A
carrocinha verde que era puxada por cavalos, nunca participou dos desfiles
comemorativos, pois era repudiada. Mas poderia estar em um museu, pois se
trouxe muitas angústias para os proprietários dos cachorros, também era um
símbolo da preservação da saúde dos são-carlenses. O Lugar do Trem desenhou em
preto e branco e a Marina
Photomania colocou as cores, mas tudo começou com o trole-prancha e com as lembranças da infância dos anos de 1950 e 1960. Assim, podem faltar detalhes, mas a ideia é deixar aqui o registro da existência da carrocinha de cachorros de São Carlos - SP. Foto 21
CRÉDITOS:
Fotos:
01, 02, 03 a 05, 14, 16, 19 e 20:José Alfeo Röhm
07 e 08: Cesaraustocesar
09: ProjetoMi&Au
10: Oeste Filmes 1927
11 e 12: Almanack - Album de São Carlos 1916 - 1917
13: O PIPOCO
15: São Paulo Antiga
17: Acervo
Foto Arte - José João "Alemão"
19: Olynto Aluisio Censoni
21: Tratamento digital - Marina Dino dos Anjos
PARTICIPARAM:
Maria Nazareth, Daniel e Lika Röhm
Obrigado por sua agradável companhia, nos encontraremos certamente na Estação 106.
Abraços, Alfeo.
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