Depois da postagem das chaminés industriais de São Carlos - SP, meu irmão Sergio me propôs fazer uma sobre as chaminés residenciais. O difícil mesmo, foi conseguir algumas fotos, pois as chaminés ficavam nos fundos das casas e raramente eram fotografadas. Dá até para pensar que elas tinham vergonha de serem fotografadas, por estarem sempre esfumaçadas, e se escondiam. Foto 01 CLIQUE SOBRE AS FOTOS QUE AMPLIAM
A chaminé é um duto vertical que vai da câmara de queima do fogão a lenha, até aproximadamente um metro acima do telhado e faz a exaustão da fumaça. Pode ser interno, sobre um canto do fogão, Foto 02
ou junto da parede externa da cozinha. Os fogões das famílias mais simples tinham apenas a câmara de queima e a chapa de apoio para as panelas. Além de fazer a exaustão da fumaça, pela chaminé também saíam os aromas dos temperos daquilo que estava sendo preparado nas panelas de ferro, ou assado no forno. E os vizinhos ficavam sabendo o que cada um estava cozinhando, ou assando, e até trocavam os cozidos e os assados. Quando a fumaça parava de sair, era porque estava tudo pronto esperando o provedor da família chegar para juntos fazerem a refeição. Foto 03
Nas cozinhas das famílias de classe média, os fogões eram mais detalhados, tinham também o forno e um espaço, na parte inferior, para o armazenamento da lenha cortada. Foto 04
Para os ricos, havia os fogões a lenha em ferro fundido e esmaltados. Eles também aqueciam a água através de uma serpentina e a casa toda era servida com água quente. A terceira esposa do meu avô Pedro Cavasin era de família de posse, e na casa deles havia um. Meu irmão e eu quando íamos vê-los, ficávamos admirando a beleza daquele fogão, o único em ferro fundido e esmaltado que vimos na nossa infância. Mas acima dos telhados, todas as famílias se igualavam pelas chaminés. Fotos 05
E assim era São Carlos - SP, até 1958, em cada
casa um fogão a lenha e em cada telhado uma chaminé.
Foto 06 - Rua Nove de Julho entre as Ruas Conde do Pinhal e Major José Inácio
Para conseguir algumas fotos das chaminés caseiras, tive que pedir ajuda aos
meus amigos que possuem acervos fotográficos da São Carlos antiga. E assim
foi possível montar este breve registro do centro e de alguns bairros da cidade,
com recortes das fotos originais. Os fotógrafos que começaram a história
fotográfica de são Carlos, a fotografaram, mas não as chaminés caseiras, pois
sempre houve coisas muito mais interessantes para serem fotografadas..
REGIÃO CENTRAL
Anos 50, à direita da Livraria Brasil, ficava o Café do Centro, bar que era o ponto de encontro dos amigos para o cafezinho, o aroma que saía da chaminé avisava que mais um café de bule tinha acabado de ser preparado. . Foto 07 - Av. São Carlos, entre as Ruas Sete de setembro e Marechal Deodoro
Ao lado da Catedral, em um sobrado tradicional onde, no térreo, foi a Casa Brasileira e hoje, a Farmácia Natureza, nos anos 70, a chaminé ainda compunha a construção original do prédio. Foto 08 - Av. São Carlos esquina com a Rua 13 de Maio
Defronte a Praça Coronel Salles, no sobrado que foi a Casa Bancária de São Carlos e hoje PREVCRED, nos anos 50, a chaminé ficou registrada na foto. Foto 09 - Esquina da Av. São Carlos com a Rua Major José Inácio
Fotografar as chaminés para que? Elas ficavam escondidas atrás das casas e só eram fotografadas quando nos fundos da casa ocorria alguma festa ou catástrofe, como na foto que é registro de uma enchente no Córrego do Gregório, em 1945, e a correnteza levou parte da casa. Foto 10 - Rua Treze de Maio, esquina com a Rua Aquidaban
Em uma foto do final dos anos 60, que mostra um pouco da região oeste da cidade, atrás da Catedral, algumas chaminés resistiam à modernidade. Foto 11 - Rua Conde do Pinhal, entre as Ruas Episcopal e Nove de Julho.
Final dos anos 70 e início dos 80, quase vista pela frente da casa, mas mais construída na parede do fundo, essa é uma das poucas chaminés que foi fotografada próximo da Igreja São Benedito ... Foto 12 - Rua Santa Cruz, entre a Av. São Carlos e rua Episcopal
VILA NERY
Anos 30, na cozinha da Escola Industrial Paulino Botelho, havia um fogão a lenha e uma chaminé. A cozinha também atendia as alunas e alunos que faziam os cursos de Arte Culinária. Foto 13 - Rua Marechal Deodoro, entre as Ruas Totó Leite e Maria Isabel de Oliveira Botelho - Vila Nery.
Na casa que fazia fundos com a Padaria Miramar, no início dos anos 50, a chaminé assistia o bonde chegar, fazer o balão e voltar. Foto 14 - Praça ARCESP ou Balão do Bonde, Vila Nery
VILA PUREZA
Em 1951, as chaminés viam a construção da Praça Dr. Christiano Altenfelder da Silva, "Praça da XV". Nos anos 60, a casa da esquerda foi o SAMDU, Serviço de Assistência Médica Domiciliar e de Urgência, e nos anos 70, a lanchonete Porão Lanches. Foto 15 - Rua Aquidaban, esquina com a Av. Dr. Carlos Botelho.
VILA PRADO
Anos 60, era época das quermesses na Igreja Santo Antonio. As barracas estavam sendo construídas e a chaminé foi testemunha de todo o trabalho preparativo e das festas. Foto 16 - Rua Ananias Evangelista de Toledo, entre a Av. Sallum e Rua Dr. Gastão de Sá.
Os primeiros concorrentes às chaminé caseiras começaram a aparecer em meados dos anos 40. Os fogões a querosene prometiam muito e a principal marca era a Fotos 17 e 18
Em uma das laterais tinha um reservatório para o querosene. Para acender os queimadores, era necessário pressurizá-lo através de uma bomba semelhante às de encher pneus de bicicletas. No início dos anos 50, na casa dos meus pais teve um, e eu me divertia acionando a bomba do reservatório. O querosene mais conhecido nos anos de 1940 e 1950 era Embora muito fácil de usar e de evitar o trabalho árduo do corte da lenha com o machado, o fogão a querosene não chegou a fazer frente para os fogões a lenha. Fotos 19 e 20
Nas décadas de 40 e 50, os fogões elétricos também foram concorrentes das chaminés, também evitavam o corte penoso da lenha e produziam muito calor, Mas eram tidos como luxo e portanto caros. Foto 21
Em 1958, chegou em São Carlos a Foto 23
Ela vendia os produtos Fogões a gás das marcas ALFA, DAKO, COSMOPOLITA, PATERNO e as cotas dos dois botijões. Inicialmente, instalou-se na Av. São Carlos, 2112, no centro da cidade. No começo houve o choque do novo e não vendiam. As pessoas temiam por não conhecer o novo produto. Mas meu pai, Alfeo Cyro Röhm, já havia visto há alguns anos a chegada dos fogões a gás de rua em São Paulo e também os de botijões, em Ribeirão Pires - SP. Conhecedor do bom funcionamento, comprou o primeiro fogão a gás da ULTRALAR, um PATERNO e os vendedores comemoraram! Como ele era muito conhecido por trabalhar com refrigeração na cidade e região, passou a servir de referência, e aí as vendas foram acontecendo. Fotos 24 e 25
Os preços eram convidativos e parcelados, a ideia da rede de lojas era popularizar o fogão a gás. E aquilo que os fogões a querosene e elétricos não conseguiram, os a gás passaram a fazer e ir substituindo os fogões a lenha e as chaminés. A forma de contar para os vizinhos que o fogão a gás havia chegado, era mandando retirar a chaminé do telhado. Ter chaminé era só para os antigos e desatualizados. Os fogões a lenha até continuavam nas cozinhas como lembranças de um tempo que passou, ou de apoio para as panelas, mas as chaminés eram retiradas. Na foto, é a participação da ULTRALAR na 1ª Feira Industrial de Amostras de São Carlos, em 1964. Foto 26
Em 1969, a ULTRALAR - ULTRAGAZ já estava na Rua Sete de Setembro, defronte
à praça central, Praça Coronel Salles, que estava em reforma e bastante próximo do
primeiro endereço.
E as vendas foram crescendo. Foto 27
No final dos anos 80, as poucas casas que ainda tinham chaminé foi porque ficaram fechadas durante muitos anos e o fogão a gás não chegou. Esta foto é uma raridade! A chaminé está sobre as paredes frontais da casa, ela está até um pouco camuflada pelos galhos da arvore, Foto 28 - Rua Marechal Deodoro, esquina da rua Rui Barbosa
E São Carlos que era assim: Foto 30
Em poucos anos ficou assim, Foto 31 - Igreja Santo Antonio, Av Sallun, entre as Ruas Ananias Evangelista de Toledo e Antonio Botelho - Vila Prado.
quase sem chaminés.
Foto 32 - Estação Ferroviária, Praça Antonio Prado
Prestando bem atenção, ainda é possível encontrar algumas poucas chaminés pelos telhados de São Carlos. Elas estão principalmente, nos prédios tombados pelo Patrimônio Histórico ou em casas tradicionais, cujas linhas construtivas foram mantidas através dos anos. Ao lado do Mercado Municipal "Antonio Massei", no casarão localizado na Rua Jesuino de Arruda, Foto 33
As chaminés caseiras de São Carlos foram como o Repórter Esso, "testemunha ocular da história", viram o nascimento da Cidade em 1857, a chegada da Ferrovia em 1882, a inauguração dos Bondes em 1914, a demolição da Igreja Matriz, em 1949, a inauguração da Catedral em 1956, o Centenário da Cidade, em 1957 e a chegada da ULTRALAR - ULTRAGAZ, em 1958. Na casa dos meus pais também havia uma chaminé, ela começava a fumegar bem cedo contando que o feijão já estava na panela de ferro. Que saudade! Foto 35
CRÉDITOS:
Fotos:
01, 06, 08, 15, 27, 28, 29, 30 e 35 : Acervo de Valentim Gueller Neto
01, 06, 08, 09 11,30 e 35: Porceno Marino
02: Fogão a lenha com fogo - TELHAMAR
03: Fogão a lenha com chaminé externa Panela de Barro e Fogo de Lenha Meu Fogão a lenha
04: Fogão a lenha com forno -MUNDODASTRIBOS
05: Fogão esmaltado - WIKIPEDIA
07, 12 e 16: Acervo de Ocimar Pratavieira
09, 10, 11, 12, 13, 24, 27, 28, 31 e 32: Autoria ou Acervo do Foto Arte - José João, "Alemão"
14 e 26: Acervo do autor
17 e 20: Fogão a querosene Mercado Livre
18: Logo Cosmopotila - Mercado Livre
19: Querosene Esso - Mercado Livre
21: Fogão elétrico - OLX
22: Propaganda Gardini - OLX
23: Logo ULTRALAR - NOVO MILÊNIO
24: Fogão ULTRAGAZ - FACEBOOK/ULTRAGAZ
25: Logo ULTRAGAZ - Televendas & Cobrança
33: José Alfeo Röhm
34: Niels Ant Sørensen
Participaram:
Maria Nazareth, Daniel e Lika Röhm
Valentim Gueller Neto
Obrigado por sua agradável companhia, nos encontraremos certamente na Estação 76.
Abraços, Alfeo.
QUERENDO UTILIZAR AS FOTOS, OU OS TEXTOS, FIQUE À VONTADE, MAS CITE OS CRÉDITOS.