Poder ver esse mapa do município de São Carlos-SP de décadas passadas, foi uma grande surpresa! Além de contrastar com linha preta e mais grossa os limites do município, mostra também detalhes da região, municípios, fazendas, rios, estradas de terra, ferrovias, etc.. Foto 01
Com o mapa, e um lote de fotos das estações ferroviárias dos ramais métricos da Companhia Paulista de Estradas de Ferro, de Ribeirão Bonito e de Santa Eudóxia, que comprei no Foto Arte, do fotógrafo José João, o "Alemão" e mais algumas, cedidas por amigos, resolvi fazer estas duas viagens ao passado.
Como o mapa é muito grande e difícil de ampliá-lo nesta página, fiz dois recortes, um com cada ramal.
Ambos tinham seus inícios na Estação de São Carlos-SP - Foto 02
Clique sobre as fotos para ampliá-las.
RAMAL SÃO CARLOS - RIBEIRÃO BONITO Foto 03
Este ramal tinha seu início em São Carlos-SP, partia da cabeceira direita da plataforma, acompanhava a linha tronco da CPEF para Araraquara, por uns 2,5Km, e, um pouco antes do pontilhão sobre a atual Av. Tancredo de Almeida Neves, "Avenida das Torres", derivava à esquerda, e contornava toda a grande Vila Prado. Naquela vila, os trilhos faziam uma grande ferradura, e saindo do perímetro urbano, começavam as propriedades rurais e as estações que serviam as mesmas: ANGICO, MONJOLINHO, JACARÉ e RIBEIRÃO BONITO. Não aparecem no mapa a Estação de SANTO IGNÁCIO que ficava entre as de Jacaré e Ribeirão Bonito e o posto telegráfico TAMANDUÁ, que ficava entre as estações de Santo Ignácio e Ribeirão Bonito. Tinha aproximadamente 60 Km e, segundo os antigos de São Carlos, a grande ferradura na Vila Prado, foi para atingir a quilometragem mínima para a concessão do ramal. Foi inaugurado em 1894 e operou por 75 anos, até 1969.
A PRIMEIRA VIAGEM, VAMOS EMBARCAR?
Na Estação de São Carlos, na foto, os trens de bitola larga, que faziam São Paulo - Colômbia, estacionavam para embarques, desembarques e baldeações à esquerda, e os ramais métricos ficavam à direita. A composição à esquerda, está no sentido São Carlos - Araraquara, e a da direita São Carlos - Ribeirão Bonito. Foto 04
Uma locomotiva a vapor tracionando carros de passageiros, partindo da Estação de São Carlos para Ribeirão Bonito. Foto 05
Como a linha métrica de 0,60m ficava, na foto, à esquerda da plataforma, logo na saída da Estação de São Carlos, desviava à direita para assumir o ramal. Através desse desvio e do ramal, as locomotivas iam até um virador próximo do pontilhão sobre a Rua Itália - Travessa 8, sentido fundo da foto, para serem viradas. Foto 06
As composições partiam de São Carlos e além dos passageiros, também levavam os suprimentos comprados na cidade, pelos fazendeiros. A 1ª parada era na fazenda Angico, próximo do córrego Água quente. Foto 07
Em 1930, o grande centro de abastecimento da cidade e das fazendas, era o Mercado Municipal, foi demolido em e ganhou um novo prédio. Foto 08
Quase tudo acontecia em função do trem. A 2ª parada era Monjolinho, e próxima da Usina Hidrelétrica Monjolinho. Foto 09
A usina gerava os 800 volts, em corrente contínua, para a ferrovia urbana dos bondes em São Carlos, da CPE - Companhia Paulista de Eletricidade, operou de 1914 a 1962, hoje é um museu. Foto 10
As consultas médicas e visitas na Santa Casa, aconteciam em função dos horários dos trens. A 3ª parada era em Jacaré, próxima do rio Jacaré Guaçu. Foto 11
A Santa Casa, fundada em 1891, em 1930, era o único hospital , atendia a população urbana e rural. Foto 12
Quando a família decidia batizar o neném em São Carlos, o transporte do recém nascido e familiares era pelo trem a vapor. A 4ª parada era na fazenda Santo Ignácio. Foto 13
O mesmo acontecia com casamentos. .As famílias vinham junto com a noiva para São Carlos para a celebração do casamento. A 5ª e última parada do ramal era Ribeirão Bonito. Foto 14
A celebrações dos batizados e casamentos aconteciam na antiga Matriz de São Carlos Borromeu, inaugurada em 1857 e demolida em 1949, cededendo o espaço para a atual Catedral. Foto 15
AGORA, VAMOS RETORNAR À ESTAÇÃO DE SÃO CARLOS, E FAZER A BALDEAÇÃO PARA SANTA EUDÓXIA.
RAMAL SÃO CARLOS - SANTA EUDÓXIA Foto 16
Saía da cabeceira esquerda da Estação de São Carlos-SP, e acompanhava a linha tronco da CP para São Paulo, por aproximadamente 1Km, derivava à esquerda e passava ao lado da "SAMBRA" - Óleos Vegetais, e depois pela atual praça Itália. Seguia pela Vila Isabel, vila que deu início ao povoamento da cidade, até o pontilhão sobre a Rodovia Washington Luis e adentrava na zona rural. No mapa, estão todas as estações: BABYLONIA, FLORESTA, CANCHIM, CAPÃO PRETO, ÁGUA VERMELHA, , ARARAHY, ALFREDO ELLIS e SANTA EUDÓXIA. Tinha aproximadamente 63km. A inauguração do ramal deu-se em 1892, e seu final, 70 anos depois, 1962.
A SEGUNDA VIAGEM:
Em São Carlos, os ramais métricos ficavam na calha mais próxima ao prédio da Estação, na foto, à esquerda. O início do ramal para Santa Eudóxia era nessa linha, sentido fundo da foto. Foto 17
Trem puxado por máquina a vapor, chegando de Santa Eudóxia na Estação de São Carlos . Ao fundo e à esquerda, o prédio da Cia Fiação e Tecidos São Carlos, a "Tecidão" que fazia divisa com o ramal. Foto 18
O projeto "Caminho dos Pinhais", quando implantado, vai recolocar parte dos trilhos no leito daquele ramal, entre a Estação de São Carlos e a praça Itália. Na foto, à esquerda da linha tronco da CP. Foto 19
Neste ramal também o trem era o principal meio de transporte, as composições de carga davam vazão à produção agrícola, principalmente o café. A 1ª parada era na fazenda Babylonia. Foto 20
Os horários dos trens atendiam principalmente aos alunos e trabalhadores que estudavam e trabalhavam em São Carlos. A 2ª parada era na fazenda Floresta. Foto 21
Na Escola Normal, inaugurada em 1910, os estudantes cursavam o Curso Normal e se formavam Professores Normalistas. Foto 22
E no Frigorífico São Carlos do Pinhal, muitos trabalhavam. Encerrou suas atividades nos anos 60, e, em 2004, foi demolido, cedendo o espaço para o Hospital Escola. Foto 23
As fazendas que criavam gado leiteiro faziam a ordenha de madrugada e levavam os latões de leite para as estações. O trem os transportava até a estação de São Carlos e, depois, a Cooperativa de Lacticínos, que era próxima, os retirava através de um caminhão. A 3ª parada era na Fazenda Experimental Canchim, do Ministério da Agricultura, hoje EMBRAPA. Foto 24
A Cooperativa de Lacticínios São Carlos localizava-se a 300m da estação ferroviária. O prédio está preservado, mas descaracterizado. Nos anos 70, passou a operar em uma nova unidade ao lado da praça Itália, onde foi a "SAMBRA" e no início dos anos 2000, encerrou suas atividades. Foto 25
Quando o gado era vendido, uma composição de vagões gaiola os transportavam até São Carlos, e de lá, seguiam viagem pela linha tronco da CP, ou a boiada ia pelas ruas da cidade e pelo Picadão de Cuiabá, onde localizava-se o Matadouro Municipal. 4ª parada era na fazenda Capão Preto. Foto 26
No pátio de São Carlos, a interessante baldeação de gado dos vagões de bitola métrica para os de bitola larga. Foto 27
Matadouro Municipal de São Carlos, onde parte do gado era abatido. O prédio está preservado e hoje é um bloco de salas de aulas da Escola de Engenharia de São Carlos - EESC-USP. Foto 28
Na safra do algodão, composições de vagões gôndola transportavam a colheita das fazendas para a Fábrica de Tecidos Madalena, que depois, passou a ser a Cia Fiação e Tecidos São Carlos, a "Tecidão". A 5ª parada era na Vila de Água Vermelha, Foto 29
Cia Fiação e Tecidos São Carlos, a "Tecidão", que tinha um ramal particular entre o pátio de São Carlos e a Indústria. Foto 30
As fazendas eram muito povoadas; os trabalhadores moravam nelas, nas colônias. E as Normalistas, para atenderem os alunos das escolas rurais, embarcavam no primeiro trem em São Carlos. A 6ª parada era na Fazenda Ararahy. Foto 31
Alfredo Ellis era o proprietário da fazenda Santa Eudóxia, a maior produtora de café da região. o Sr. Nicola Gonçalves, historiador de São Carlos, conta que da estação Alfredo Ellis saia um pequeno ramal para o engenho de café Santa Eudóxia, e que pela alta qualidade, era exportado para a Inglaterra. A 7ª parada era naquela estação. Foto 32
Quando madeiras eram vendidas pelos fazendeiros, vagões prancha transportavam as toras até as serrarias Giongo e Santa Rosa, que tinham ramais particulares até o pátio de São Carlos. A 8ª parada e final do ramal era na Vila de Santa Eudóxia, Foto 33
A Serraria Giongo, 1962, dia em que a locomotiva perdeu os freios e derrubou o telhado. Preservada, hoje é agência dos Correios e uma pizzaria. Foto 34
A Serraria Santa Rosa, demolida, hoje é a loja 22 da rede Jaú Serve Supermercados. Foto 35 FIM DA SEGUNDA VIAGEM
QUASE NADA RESTOU
E, entre 1962 e 1969, tudo acabou. Das 14 estações entre os dois ramais, 9 ainda sobrevivem, mas, a maioria perdeu suas características originais. No ramal de Ribeirão Bonito ainda é possível ver as estações de MONJOLINHO, SANTO IGNÁCIO e RIBEIRÃO BONITO. E no ramal de Santa Eudóxia, as estações de BABYLONIA, FLORESTA, ÁGUA VERMELHA, ARARAHY, ALFERDO ELLIS e SANTA EUDÓXIA. Cada estação era o início de um povoado com algumas casas e algum comércio. Com o fim dos ramais, as casas se esvaziaram e os comércios fecharam. Das estações sobreviventes, nenhuma foi preservada como um símbolo ferroviário e se tornaram moradias, depósitos, fábrica, prefeitura, restaurante e escolas. E hoje, os jovens de São Carlos, sequer ouviram falar que da estação ferroviária partiam os dois trenzinhos...
SOBRE O MAPA DO MUNICÍPIO DE SÃO CARLOS
Além dos ramais ferroviários já mencionados, aparecem também no mapa: a) A linha tronco da Companhia Paulista de Estradas de Ferro entre São Carlos e Araraquara. b) A Tramway da Companhia União Agrícola Morgante, que, em 1920, passou a ser a Ferrovia da Usina Tamoyo, entre a estação de Tamoyo da CP e a margem do rio Jacaré Grande, e entre Chibarro e a Fazenda das Flores e Margem do córrego Brejo Grande. d) Em Araraquara, detalha seguimentos dos trilhos da CP e da Estrada de Ferro Araraquara - EFA. e) Em Rincão, os trilhos da CP e do ramal Mogy Guassu. Futuras postagens.
SOBRE A DATA DO MAPA
a) A estação de Santo Ignácio foi inaugurada em 1912, e não é citada..
b) No mapa aparece "Tramway da Companhia União Agrícola Morgante" e em 1920, passou a ser Ferrovia da Usina Tamoyo.
c) As estradas rodoviárias aparecem como " Estrada para Automóvel", e a principal rodovia da região, a Washington Luis - SP 310, fundada em 1923, não é citada.
Com esses dados, tudo leva a crer que esse mapa foi impresso antes de 1912. Veja o mapa ampliado clique AQUI.
VEJA MAIS:
CRÉDITOS:
FOTOS:
01, 02, 03 08, 16, 23 e 25 : Acervo Valentim Gueller Neto
22: Foto Colombo - Acervo Valentim Gueler Neto
04, 07, 09, 14, 17, 20,21, 24
26, 28, 29, 30, 31, 32, 33, 34
e 35: Foto Arte - José "Alemão" João, - São Carlos-SP
05: Acervos Thomas Correa e Vanderley Duck
06: Acervo Marco Aurelio Alves da Silva
10: Filemon Peres - Almanach de São Carlos - 1916-1917 - Acervo Foto Arte
11: Estações Ferroviárias do Brasil - Acervo Ralph Mennucci Giesbrecht
12 e 15: Acervo Antonio Carlos Lopes da Silva - Revista Raça 1929 - 1933
13: Sergio Paulo Doricci
18: Autor desconhecido - Acervo José Alfeo Röhm
19: Geraldo Godoy - ABPF
27: Filemon Peres - Álbum Centenário da Companhia Paulista
de Estradas de Ferro - Acervo Foto Arte
PARTICIPARAM:
Antonio Carlos Lopes da Silva
Luis Antonio ferro Gobato
Maria Nazareth, Daniel e Lika Röhm
Ralph Mennucci Giesbrecht
Sergio Paulo Doricci
Agradecimentos:
Ralph Mennucci Giesbrecht
Obrigado por sua agradável companhia, nos encontraremos certamente na Estação 53.
Abraços, Alfeo.
OBS: Se você tiver dificuldade em fazer um comentário na janela aí abaixo, entre como anônimo, e cite seu nome e e-mail no final do texto.