• 0
  • 1 Faculdade Dom Pedro II - São Carlos-SP (1928-2009)
    Acervo Valentim Gueller Neto
  • 2 Bonde da Carne São Carlos–SP (1912-1962)
    Acervo Raymond DeGroot
  • 3 Estação Ferroviária de São Carlos-SP (1925)
    Acervo Valentim Gueller Neto

Estação 75-A - Algumas Rotas das Boiadas de São Carlos - SP

| |
  Morávamos em São Carlos - SP, no início da Avenida Dr. Carlos Botelho,  esquina da rua sem nome, hoje Rua Vitor Manoel de Souza Lima, próximo da Santa Casa, anos 50, ruas em terra. Quinzenalmente, minha mãe, a Anna, "Nitinha" ou "Nita",  ia visitar suas irmãs e os sobrinhos e meu irmão Sergio e eu íamos juntos.   Foto 01 

Logo após o almoço, íamos de bonde, que já era  um passeio, até os pontos mais próximos das   casasas da tias Neobe,  Odila e Lourdes.   Foto 02  -  Santa Casa de Misericórdia de São Carlos



As boiadas saiam das fazendas que localizavam-se no entorno da cidade com destino aos abatedouros, Frigorífico São Carlos do Pinhal e Matadouro Municipal. As casas das minhas tias ficavam nas ruas, ou próximo delas, que serviam de rotas às mesmas. Foto 03 - Fazenda Flórida - São Carlos - SP
ROTA DO FRIGORÍFICO

As boiadas  que chegavam na cidade pela região Sul,  vinham principalmente, pelo "Estradão", hoje Rua Raimundo Correa, e ganhavam as  Ruas Rui Barbosa, Orlando Damiano, São Joaquim...,  e depois,  chegavam no Frigorífico São Carlos do Pinhal. Foto 04 


Para irmos à casa da tia Neobe, descíamos do bonde no ponto que ficava defronte a Casa SAAD, que era de propriedade dos tios Salvador e Neobe, na esquina das Ruas Major José Inácio e Dª Alexandrina. Hoje, SAAE.  Foto 05 


 Descíamos do bonde e depois íamos a pé por uns seis quarteirões e minha mãe ia olhando para todos os lados, observando se a boiada estava vindo, pois havia a travessia da Rua Rui Barbosa, rota das boiadas. O problema maior mesmo era minha mãe, que tinha pavor dos bois e nos passava muito medo.   Foto 06


A tia "Niubi" morava na Rua São Paulo, 896, entre as Ruas Treze de Maio e Jesuino de Arruda, Foto 07 -  Fachada.atual


próximo da "Oficina Mecânica Censoni".  Foto 08 - À esquerda, Oficina Censoni




E às vezes, na travessia da Rua Rui Barbosa, a boiada aparecia. Nossa mãe pegava nas nossas mãos e saía correndo, procurando algum lugar para nos escondermos dos bois, e assim que a boiada passava, ela se acalmava e continuávamos indo para a casa da tia "Niubi". Ela  punha uma mesa linda, com leite, Vic Maltema, manteiga conservada na água, pão e bolo caseiro. O detalhe eram os pratinhos de sobremesa  de louça branca com uma faixa na borda nas cores amarelo, azul e rosa. Era uma festa na companhia também dos primos José Luiz, o "Ize" e José Roberto, o "Beto".  Foto 09 





Quando era a vez de visitar a tia Odila, descíamos do bonde no ponto da Rua Marechal Deodoro, defronte a Padaria ALBBA,  depois Lavanderia Continental, e hoje estacionamento.  Do lado direito da padaria era o escritório da CPE - Companhia Paulista de Eletricidade, concessionaria dos bondes de São Carlos.  Foto 10


Caminhávamos uns cinco quarteirões, 
mas, no meio do caminho havia a travessia da Rua Rui Barbosa, e minha mãe parava na esquina e olhava se a boiada estava vindo. - Foto 11

Tia "Dila" morava na  rua Marechal Deodoro 2609, entre as Ruas São Paulo e Campos Salles, na Vila Nery,   . Foto 12 - Fachada atual

próximo da garagem dos bondes, hoje Edficíos "DI ITALIA". Ela sempre nos esperava com café em um bule de ágata verde e pizza de sardinha, de massa grossa e fofa. Para meu irmão e eu era uma festa ver o tio Tomas fabricar velas,  no fundo do quintal, velas comuns e ornamentais que eram trabalhos de artista,   "Velas Carile". Na confraternização sempre também estavam a  nossa prima Maria Adelaide, a "Dade" e o vô Miguel, pai do tio Tomas. Foto  13 - Garagem dos bondes


Para a casa da tia Lourdes, o ponto do bonde era na esquina das  Ruas Vinte e Oito de Setembro com a São Joaquim, defronte ao Armazém do Sr Giácomo Drighetti, hoje estacionamento,  Foto 14  

Ela morava na esquina das Ruas São Joaquim e Orlando Damiano, na Vila Pirituba. A rota das boiadas continuava pela Rua São Joaquim, com início na esquina,  onde era a casa dela,  e também  o armazém do tio Victório, "Armazém do Zabotto". E assim, continuavamos na rota das boiadas. E minha mãe... Foto 15 



Tia "Lurdes" preparava os docinhos que sempre mais gostei, cajuzinhos de amendoim, suco de tomate, pãozinho doce e café. Regina, a "Reca", Lucia Helena, a "Lucita" e  Marco, nossos primos, multiplicavam nossas alegrias.     Foto 16 - Fachada atual

Em uma tarde que estávamos lá, tio Victório abriu a porta de madeira que dava passagem do armazém para a sala,  e avisou que não era para ninguém ir no armazém por que um boi havia entrado e empacado lá. Depois de muito trabalho dos boiadeiros o boi foi retirado, mas o prejuízo foi grande, o boi quebrou o balcão e as prateleiras que eram de madeira. Sobre aquele balcão havia um baleiro de vidro com balas "AZEDINHA", "PIPPER" e caramelos marrons, sem embalagens,  de cevada, passados no açúcar, Um dos sabores da nossa infância  Foto 17  - Fachada reconstituída


O final da boiada era no Frigorífico São Carlos do Pinhal, que localizava-se na entrada Norte da cidade, esquina formada pela Avenida Luiz Augusto de Oliveira e Rodovia Washington Luiz.   Foto 18
 ROTA DO MATADOURO


As boiadas  que chegavam na cidade pela região Sul,  vinham principalmente pelo "Estradão", hoje Rua Raimundo Correa, e ganhavam as  Ruas Rui Barbosa, Padre Teixeira, Visconde de Inhaúma e  Matadouro Municipal.   Foto 19


A nossa casa ficava a três quarteirões  da Rua Visconde de Inhaúma, rota das boiadas. Foto 20 


As vendas e bares da Vila Pureza ficavam principalmente no entorno da Rádio São Carlos, hoje EMBRAPA INSTRUMENTAÇÃO. E para fazer as compras era necessário entrar ou atravessar a rota das boiadas. Cortávamos o campinho entre as  Rua Vitor de Souza Lima e Major Julio Salles, e seguíamos pela Rua XV de Novembro até a Rua Visconde de Inhaúma.  Foto 21 


E minha mãe, sempre preocupada, recomendava: - "Cuidado, que lá tem boiada!" Comprávamos no Bar do Sr. Aurélio Stancati (1),  no Armazém do Clélio (2), e no Bar do Carlito, (3)  no mapa acima.  E às vezes a boiada aparecia, Seguindo o exemplo materno, corríamos e nos escondíamos na primeira porta ou portão aberto. Passada a boiada, íamos às compras ou voltávamos para casa.  Foto 22


O final da boiada era no Matadouro Municipal que localizava-se no na confluência da  Rua Paulino Botelho de Abreu Sampaio com a  Rua Visconde de Inhaúma. Hoje, conjunto de salas de aulas  da Escola de Engenharia de São Carlos - EESC-USP,   Foto 23 

onde os bois eram recolhidos em um cercado. Foto 24                                                                                                                                      


 Na frente das boiadas, vinha liderando  um  boiadeiro que tocava o berrante e gritava: -"Óia a boiada, fecha os portão." E quando as boiadas estouravam, os boiadeiros galopavam com seus cavalos e iam gritando: -"Sai da frente, fecha as porta, fecha os portão, a boiada estorô"   Foto 25

Em um estouro de uma boiada, o velho portão de madeira de nossa casa serviu de encosto para um boi desgarrado e amuado. Resultado, o portão teve que ser substituído. Foto 26



ROTA FERROVIÁRIA


Nesta rota, os bois não iam a pé, iam de trem, e assim não era necessário nos escondermos.
                                                     Uma ou duas vezes por ano, nas nossas férias escolares, íamos de trem  para Ribeirão Pires para visitar nossa avó paterna, a vó Margarida. Antes do embarque, passava o trem transportando gado e ia até logo após da subestação da Companhia Paulista de Estradas de Ferro,        Foto 27 - Casas de turmas da subestação da CP de São Carlos



e próximo dos armazéns da CEAGESP - Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo, Foto 28 - Armazéns da CEAGESP de São Carlos

onde havia a baldeação do gado que chegava pelas composições dos ramais da bitola métrica  de Água Vermelha, Santa Eudóxia e de Ribeirão Bonito, para os vagões gaiolas da bitola larga, que os transportavam  para os grandes frigoríficos de São Paulo, ARMOUR, SWIFT e BORDON.   Segundo Ari Batista, ex-ferroviário e morador da Estação Hipódromo, as composições da bitola métrica iam de ré da Estação Ferroviária até o local da baldeação. Encostavam no desembarcador de gado e no outro lado do mesmo, na perpendicular, estava a composição da bitola larga. Foto 29 - 


Hoje em São Carlos, não passam mais boiadas nas ruas e na Estação Ferroviária,
 só passam vagões de açúcar, cereais e derivados do petróleo. 
Ficaram nas nossas memórias da infãncia.


Fotos: 
01 e 26: Alfeo Cyro Röhm
02: William Jassen - Acervo Allen Morrison
03, 05 e 27: Acervo Foto Arte - José João. "Alemão"
04, 06, 07, 11, 12, 15, 19 e 21: Google Mapas
08: Acervo Olyntho Aluisio de Freitas Censoni
09 e 25: Acervo Ronaldo Dalri
10,e 14, 18 e 22: Acervo Valentim Gueller Neto
13: Filemon Pérez - Almanach Álbum de São Carlos - 1916-1917
14, 17 e 20: Tratamento digital, Marina Dino dos Anjos
16 e 20: José Alfeo Röhm
17: Marina Dino dos Anjos
23 e 24: Filemon Pérez -  Acervo Foto Arte - José João. "Alemão"
29: Filemon Pérez - Álbum Ilustrado da Companhia Paulista de 
      Estradas de Ferro, 1868  - 1918
Participaram:
Anna Cavazini Röhm
Ari Batista
Maria Nazareth, Daniel e Lika Röhm
Marco Antonio Cavasin Zabotto
José Luis Cavasin Raschelli
Sergio Antonio Röhm
Sergio Paulo Doricci

Obrigado por sua agradável companhia, nos encontraremos certamente na Estação 77.
                                                         Abraços, Alfeo.

QUERENDO  UTILIZAR  AS  FOTOS,  OU  OS  TEXTOS,  FIQUE  À  VONTADE,  MAS  CITE  OS  CRÉDITOS.

OBS: Se você tiver dificuldade em fazer um comentário na janela aí abaixo, entre como anônimo, e cite seu nome e e-mail no final do texto.

13 comentários :

MaluBlanco disse...

Amigo querido!
Sempre nos alegrando com suas memórias que também são nossas. Morei sempre na Rui Barbosa , entre s ruas Treze de maio e Conde do Pinhal. Sei bem como era conviver com as boiadas. A vantagem é que podíamos ver que elas vinham quando apontavam rua, antes da cadeia , levantando um poeirão. Meus avós moravam maternos moravam na Alexandrina, perto do Zabotto e também víamos as boiadas quando brincávamos na Orlando Damiano. Quanta delícia. Adorei! Abraço com carinho.

Lugar do Trem disse...

Cleo Pisani escreveu no Facebook: Adorei a história da boiada. Lembro-me que, quando eu era criança (sempre morei na Rua XV esquina da Rui Barbosa) a boiada passava na Rui Barbosa e ficávamos esperando a boiada passar e o boiadeiro tocando o berrante. Era uma aventura. As vezes a boiada estourava na nossa esquina. Era uma correria só. A criançada e os adultos correndo para todos os lados. Onde encontravam um portão aberto, era lá mesmo que entravam e se escondiam. Os bois ficavam furiosos e perigosos. Beleza lembrar de tudo isso.

Lugar do Trem disse...

Nicola Di Lorenzo Neto escreveu no Facebook: Nossa espetáculo essa história

Pensamentos e Historias disse...

Morava na rua Dna Alexandrina,2120 em frente a casa do Saudoso Dr Perdigão. E realmente tinha um medo enorme quando a boiada passava. Quando estourava a boiada o chicote estourava também no ar. Corríamos pra dentro de casa ou onde estivéssemos nos escondiamos. Eles viam da rua São Joaquim, atravessam pôr cima da ponte pois desciam lá do antigo nome Tijuco preto. Tenho trauma e muito medo!

Lugar do Trem disse...

Maria Adelaide Novaes De Castro Bonilha escreveu no Facebook: Morava na rua 13 de maio, perto da São Paulo e algumas boiadas vinham pela 13 para pegar a Rui Barbosa. Tinha muito medo! Aprendi desde cedo que se tivesse boiada por perto ou chuva muito forte, deveria entrar na primeira casa e esperar que passassem e depois ir para casa. Jamais atravessar a rua se tivesse enxurrada

Lugar do Trem disse...

Isabel Veronica Paulo escreveu no Facebook: Morei na rua Dna Alexandrina, 2120 em frente a casa do Saudoso Dr Perdigão. Realmente ali passava as boidas também. E quanto susto a gente passava quando havia estourou delas. Ó chicotes dos boiadeiros estourava no ar. Elas pulavam o muro a gente de escondia aonde estivéssemos. Elas vinham lá do antigo Tijuco preto como era conhecido o bairro e passava por cima da ponte pela Rua São Joaquim. Tenho medo e trauma pôr tanto susto ter passado!

Lugar do Trem disse...

Regina Zabotto escreveu no facebook:Quantas lembranças boas primo!

Lugar do Trem disse...

José Fernando Rossit escreveu no Facebook: Moramos alguns anos na casa vizinha ao SAAE, hj consultório médico, boas lembranças !!!!

Lugar do Trem disse...

Paulo Sergio Ferro escreveu no Facebook: Eu morava em frente à praça Duque de Caxias local que sempre estourava as boiadas, quando não tinha carregamento de cavalos roubados que ia pra Bragança Paulista pra fazer linguiça minha casa era em um barranco eu assistia de camarote isso na década de 60 .

Lugar do Trem disse...

Osmarina Bicaletto escreveu no facebook: ObG por essa tão boa lembrança...
Vi várias boiadas....era uma festa.
Eu morava na R. Maria Isabel de O. Botelho, quase esquina da Padre Teixeira..
Esperávamos ansiosos a passagem dois bois e os cavaleiros..
Boas lembranças!

Lugar do Trem disse...

Osmarina Mucheroni escreveu no Facebook: Tempo bom, só Saudades e você nos dando esse presente raro. Obrigada amados

Lugar do Trem disse...

Diógenes Pereira Gonzaga escreveu no Facebook: Vi algumas boiadas nos fins dos 50s e começos dos 60s na rua Larga, ainda de terra. Após asfaltarem pararam as boiadas. (Av. Dr. Teixeira Prado).

Lugar do Trem disse...

Diógenes Pereira Gonzaga escreveu no Facebook: Confundi com Rua Ana Prado e coloquei os sobrenomes do Airton!!! Av. Dr. Teixeira de Barros!!!!

Postar um comentário

Deixe aqui seu comentário!