Quando em 27 de dezembro de 1914, a
inaugurou as linhas de bondes de São Carlos, este bonde, provavelmente, já havia contribuído muito para a implantação da ferrovia urbana. É muito pouco conhecido, era um vagão de manutenção das vias, e de socorro nos acidentes. Nos anos 50, a molecada o apelidou de "Bonde de Ferro", talvez por causa da sua cor cinza e do seu desenho agressivo e robusto. Ele aparecia muito pouco, mas onde estava era sinônimo de problema, era seção de trilho que tinha que ser trocada, dormentes que tinham que ser substituídos, desvios desalinhados, parafusos dos trilhos rompidos ou frouxos, descarrilamentos, abalroamentos, fio trolley rompido ou desgastado. Tudo era cuidado pela Equipe de Manutenção da Companhia Paulista de Eletricidade que se utilizava desse vagão de apoio, para manter a ferrovia urbana em funcionamento e garantir a pontualidade dos bondes. Foto 01: Foto Arte -José "Alemão" João - Foto o2: Logo CPE - Allen Morrison - Antonio Gorni
Foto 03: Filemon Pérez - Almanach - Álbum de São Carlos, 1916 - 1917


A distância percorrida pelo "Bonde da Carne" da Santa Casa até o Matadouro Municipal era de aproximadamente um quilometro, destaque em azul no mapa. Foto 06: Google Mapas.
de abatedouro à
Foi todo restaurado como prédio Histórico e hoje destina-se às atividades acadêmicas.
Seu interior, era confortável e até com algum luxo, mas teve vida curta e foi rejeitado. O povo dava preferência para os carros abertos e o "Camarão" circulava sem passageiros.
Depois de várias tentativas frustradas, sumiu de circulação e tornou-se novamente um carro aberto. Pelo seu pouco tempo de vida, também ficou pouco conhecido.
Foto 13: Foto Arte - José "Alemão" JoãoDepois de várias tentativas frustradas, sumiu de circulação e tornou-se novamente um carro aberto. Pelo seu pouco tempo de vida, também ficou pouco conhecido.
As linhas dos bondes de São Carlos eram três;
a "1" que ligava o Cemitério Nossa Senhora do Carmo à Estação Ferroviária da Companhia Paulista de Estradas de Ferro - CPEF. A "2" fazia a conecção entre a Santa Casa de Misericórdia e o Gynásio Diocesano e a "3" que transportava os passageiros da Praça ARCESP na Vila Nery, até a Estação Ferroviária. As três linhas se aproximavam no centro da cidade, perrmitindo baldeações e encontravam-se na Estação Ferroviária, nos horários das chegadas e partidas dos trens da passageiros. Atendiam também os horários de entrada e saída dos funcionários nas fábricas.
Quando foi implantada a linha "2", Santa Casa - Gynásio, no início da Av. Dr. Carlos Botelho, os trilhos faziam uma curva à esquerda, seguiam pela Rua Paulino Botelho de Abreu Sampaio e terminavam defronte daquele hospital. isso se manteve até o início dos anos 50, quando aquele trecho de trilhos foi retirado. Foto 17: Acervo do autor - Foto inédita, adicionada em 13 de novembro de 2011.

O bonde "2" no ponto final da Santa Casa, início da Av. Dr. Carlos Botelho. Nesta foto é possível observar dois detalhes raros: O primeiro é do cobrador acabando de mudar o pantógrafo do carro de passageiros para a face posterior do mesmo. O segundo é a curva dos trilhos que segue à direita, início da linha do "Bonde da Carne". A curva dos trilhos à esquerda que permitia que o bonde fosse até defronte daquele hospital, já não está mais presente. Esta foto foi lembrada pelo Amigo Antonio Carlos Lopes da Silva, e inserida em 02 de novembro de 2010, como complemento desta Estação. Foto 17.1: Ponto final da Santa Casa - 1958 - William Janssen


"2" parava antes da passagem de nível dos trilhos da CPEF, e como os fios trolley que alimentavam as locomotivas ficavam na transversal à linha do bonde, o mesmo não podia ultrapassar as vias ferroviárias com o pantógrafo erguido. Aquele coletor de energia, em forma de lira que ficava sobre o carro era abaixado pelo cobrador e amarrado por uma corda ao parachoque do carro. A seguir, o cobrador pegava um bastão com uma extensão com capa isolada do fio trolley, que ficava enrolada e guardada à esquerda da passagem de nível, ou da porteira da Paulista, e a conectava através de um gancho energizado ao pantógrafo. Após essa operação, o bonde fazia a travessia dos trilhos da Companhia Paulista. Após a passagem, a extensão era retirada e o pantógrafo levantado, passando a receber novamente a energia da rede elétrica. Foto 18: Porteira da Companhia Paulista de Estrada de Ferro em São Carlos-SP- 1958 - William Janssen
E finalmente, o bonde "2" continuava até o ponto final defronte ao Gynásio Diocesano.
Essa operação de energizar o bonde através de uma extensão do fio trolley se dava na ida por ser subida. O detalhe da volta foi lembrado pelo Doricci: "Na volta, o bonde parava mais ou menos a uns 20 metros antes dos trilhos da CP, o motorneiro dava a partida, embalava o bonde, e o cobrador abaixava o pantógrafo. Por ser descida, o bonde fazia a travessia no embalo, ou na "banguela". Após a passagem o pantógrafo era erguido e conectado ao fio trolley, e o bonde continuava seu trajeto." Estas duas operações para a passagem do bonde pelos trilhos da ferrovia talvez foram soluções únicas no Brasil.


Como os bondes eram festeiros, as noivas iam para os casamentos acompanhadas dos pais, padrinhos e convidados de bonde, e da mesma forma aconteciam os batizados. Foto 23: Fotograma Oeste Filmes - Antiga Matriz de São Carlos - 1927, Acervo Foto Arte - José "Alemão" João. Do livro "TOCANDO O BONDE EM SÃO CARLOS-SP" de Marco Antonio Leite Brandão

No final de cada dia, por volta da 23 horas, eram recolhidos na garagem, "Estação dos Bondes", era um prédio grande que ficava com a frente para a rua Campos Salles, entre as Ruas Marechal Deodoro e Padre Teixeira, na Vila Nery. No dia 15 de junho de 1962, à noite, os bondes para lá voltaram, e no dia 16 não sairam.
A Companhia Paulista de Eletricidade - CPE havia encerrado os serviços de bondes em São Carlos após cumprir os cinquenta anos de contrato. O prédio que abrigava os bondes não teve o mesmo destino nobre do Matadouro Municipal, não se tornou o Museu do Bonde, nem um Centro Cultural ou Empresarial, com a preservação do prédio Histórico. Foi leiloado, arrematado, demolido e hoje naquele local existem duas torres de apartamentos. Foto 25: Filemon Pérez - Almanach de são Carlos 1916 - 1917
Mas agora ligue o som, e que tal um passeio nos bondes de São Carlos?
Além das saudades, muitas lembranças, artigos, livros, fotos e filmes, o que sobrou foi graças ao Sr. Nicola Gonçalves,
o Seo Nicola do Bonde.
Fui visitá-lo em 28 de outubro de 2010, antes do término desta Estação para tirar algumas dúvidas sobre os dois bondes remanescentes de São Carlos. Abaixo segue um breve resumo da conversa que tivemos:
Foi ele que antes dos desmontes dos bondes, negociou com a diretoria da CPE a compra de um bonde, o "7". O preço ficou para ser acertado depois de trinta dias, e após esse tempo, o Dr. Djalma Kell, diretor daquela Empresa o chamou e lhe deu o preço do único bonde que ainda estava inteiro. Seo Nicola me contou que foi um valor muito alto, como se fosse hoje ,R$ 12.000,00, e que ele não tinha condições de fazer a compra. Comunicou a decisão ao diretor e disse a ele que sabia quem podia comprar aquele carro. Manteve contatos com os Srs. Dário Rodrigues e Totó Fiorentino que eram rotarianos e através deles, o
Foi ele que antes dos desmontes dos bondes, negociou com a diretoria da CPE a compra de um bonde, o "7". O preço ficou para ser acertado depois de trinta dias, e após esse tempo, o Dr. Djalma Kell, diretor daquela Empresa o chamou e lhe deu o preço do único bonde que ainda estava inteiro. Seo Nicola me contou que foi um valor muito alto, como se fosse hoje ,R$ 12.000,00, e que ele não tinha condições de fazer a compra. Comunicou a decisão ao diretor e disse a ele que sabia quem podia comprar aquele carro. Manteve contatos com os Srs. Dário Rodrigues e Totó Fiorentino que eram rotarianos e através deles, o

Foto 27: Google Imagens.

Foto 28: Allen Morrison
No início de 2008, foi recolhido nas oficinas
Prefeitua e desta vez o Seo Nicola foi contratado para mais uma vez restaurar o bonde "7". No final de 2008, o bonde foi novamente para o espaço público, se tornou cartão postal, e desta vez na Praça ARCESP "Balão do Bonde" da Vila Nery.
Foto 29: José Alfeo Röhm - 29 de dezembro de 2008.
Foto 29: José Alfeo Röhm - 29 de dezembro de 2008.
Mas, Seo Nicola queria ter um bonde e comprou outro da CPE, o "11". Já estava sem cobertura, ficou guardado por bom tempo num terreno ao lado da "Serraria do Bonde", e depois na rua, defronte a mesma. Como já estava muito degradado, acabou sendo desmontado, e a madeira reaproveitada. E, do bonde mesmo, ficou a serraria do Seo Nicola.
Finalizando a papo com Seo Nicola, este simpático Marceneiro me contou que em São Carlos havia oito bondes motorizados de passageiros, "1", "3", "5", "7", "9", "11", "13" e "15", e mais dois "Cara Dura"; eram os carros de passageiros sem motor. Principalmente nos Dias de Finados, os "Cara Dura" eram engatados nos bondes motorizados para auxiliar no transporte do povo na ida e na volta do Cemitério Nossa Senhora do Carmo.
O Antonio Carlos Lopes da Silva lembrou-se de outro detalhe muito importante da História dos bondes de São Carlos : " Os desconhecidos bondes puxados por burros do Coronel Leopoldo Prado em 1895. " Asunto para uma próxima Estação.
..., mas, falar dos bondes de São Carlos é uma História que não tem fim, cada um de nós que convivemos com eles, temos sempre um capítulo a mais para contar...
Créditos:
Fotos: Em cada foto
Video: EPTV-São Carlos - Youtube
Colaboraram:Adolpho Nocilli Neto
Antonio Carlos Lopes da Silva
Daniel Gobato RöhmMaria Nazareth Gobato Röhm
Meire MilanettoNicola GonçalvesSergio Paulo Doricci
Valentim Gueller Neto
Pesquisa bibliográfica:
Almanach Álbum de São Carlos - 1916 - 1917 - Typographia Artistica
O Bonde no "Balão do Bonde" - Marco Antonio Leite Brandão - 2010
São Carlos na Esteira do Tempo - Julio Bruno e Ary Pinto das Neves - 1984Tocando o Bonde em São Carlos-SP - Marco Antonio Leite Brandão - 2009Mais Interior
Novo Milênio
The Tramways of São Carlos
Obrigado pela sua agradável companhia. Nos encontraremos novamente na Estação 20.
Abraços, Alfeo.
Tweet
15 comentários :
Muito legal! adorei saber mais da história de São Carlos.
Abraços
Camila
Parabéns é uma parte da história da Cidade de São Carlos que foi resgatada, e servira de fonte de conhecimento para as gerações futuras.
"Só e quem conhece seu passado pode respeitar o seu presente e compreender o seu futuro"
Parabéns São Carlos
Rosane
Que fantástica a história dos Bondes de São Carlos! Um registro importante para que fique guardado na memória cultural daqueles que um dia viveram ou vivem nessa bela cidade! Foi possível até voltar ao tempo para comparar com aquela São Carlos da década de 90, quando estive por aí, e ver como a cidade se desenvolveu e mudou ao longo do tempo... Parabéns pelo seu trabalho! Nos vemos na próxima estação, sem dúvida! Carinhosamente,
Milla, Luis, Thiago e Luciano
Fantástico o blog. Vou recomendar aos amigos. Como é bom saber que tem gente preseervando a história da cidade onde eu nasci.
Moro em São Carlos há 32 anos(desde o nascimento). Não vivi na época dos bondes, mas sei o quão importante são para nossa história. Tenho um projeto(na verdade, uma idéia)de um blog para registrar e ilustrar a história e o cotidiano da nossa cidade. Gostaria, se fosse possível, algumas dicas para por em prática essa idéia. Meu e-mail: lucasperuzzi@hotmail.com. Desde já agradeço!
SR NICOLA,ele é tudo de bom,sou fã dos seus livros
Caro Anônimo cujo o e-mail é: lucasperuzzi@hotmail.com .
Já lhe mandei as dicas, confira na sua caixa postal. Abraços, Alfeo.
Fico orgulhoso em saber um pouco mais da história de minha cidade, hoje nela não resido, mas sempre estou lá, e meu avô de 81 anos me conta cada dessa época de ouro dos bondes. Parabéns a todos que realizaram essa reportagem e áquelas pessoas que construíram a história dos bondes em São Carlos.
Coisa mais linda do ser humano é a preservação da memória !!!! Parabens..
Morei em São Carlos de 1951 até 1960, quando mudei-me para Marília, aos nove anos de idade. Porém em todas as férias escolares voltava a São Carlos de trem, com baldeação em Itirapina, para visitar meus avós , tios e primos. Morei na Vila Prado.Cursei meus primeiros escolares numa sala de aula isolada que ficava ao lado da Igreja Santo Antonio e depois a 2ª e início da 3ª série do Primário no Grupo Escolar Bispo Dom Gastão Frequentei muito os Cines Jóia, Avenida e São Carlos. Lembro muito bem da passagem do bonde sobre os trilhos da CPEF e todo aquele ritual que o condutor fazia para levar o bonde de um lado para o outro. Quantas recordações tenho desta maravilhosa cidade. Fiquei muito emocionado em ver essa fotos antigas. Antonio Carlos Gigliotti
Gostei de conhecer a historia do bonde. Acho que se vcs conseguissem os nomes dos motorneiros que conduziam os bondes naquela época seria uma forma de homenageá-los e de complementar este maravilhoso trabalho. No bonde do carnaval que aparece numa das fotos, podemos ver nitidamente o Sr. José Ferreira (pai de uma grande amiga do face: Elizabeth Ventura )
Excelente resgate histórico.
Obrigado!
Essa matéria é um verdadeiro documento histórico.Parabéns para o José Alfeu Röhm por sua paciência em organizar tantas informações para as gerações futuras.
Excelente. Grande abraço, Alfeo!!
Excelente documento.Parabéns pela elaboração.
Postar um comentário
Deixe aqui seu comentário!